Os movimentos feministas no Brasil estiveram intimamente ligados e amplamente determinados pelos cenários políticos, econômicos e sociais em diferentes momentos históricos. Do final do século XIX aos movimentos de redemocratização do final da década de 80 do século XX, e à pluralidade dos movimentos feministas do século XXI surgiram novas formas de pensamento ora reforçados pelo surgimento do feminismo acadêmico e dos núcleos de pesquisa de estudos da mulher. Apesar das múltiplas identidades dos movimentos em uma sociedade plural, um ganho inegável se identifica: o questionamento do sujeito da história universal, do protagonismo do homem universal, no entendimento da função patriarcal como elemento hierarquizante e silenciador. Vislumbra-se, pois, a complexidade e a importância das histórias das mulheres e da intelecção das construções sociais de gênero.
Assim, Intentando se contrapor a construções sociais que invisibilazaram as mulheres na história da arte no Brasil, este livro pretende contribuir para trazer à tona trabalhos de mulheres artistas neste país, desde o período pré-colombiano até à contemporaneidade, e representações de mulheres abordadas por autoras numa perspectiva de gênero.
A história da arte no Brasil tem valorizado de maneira insuficiente o papel das mulheres ou a sua inserção nesse contexto, estando ainda bastante centrada nos padrões estéticos da arte europeia, patriarcal, como sinônimo de valor artístico universal. Este livro pretende dedicar-se a estudos que problematizem essa revisão de universalidade, contribuindo para a construção e visibilidade de novas histórias das artes que enfoquem as mulheres no Brasil como protagonistas do fazer artístico, seja como representadas, seja como artistas. Parte-se de uma perspectiva de gênero e de uma abordagem decolonial. Serão acolhidas pesquisas relacionadas à representação de mulheres e ao fazer artístico de mulheres no Brasil, participantes ou não da historiografia estabelecida academicamente. Serão bem-vindas autoras, teóricas ou artistas, mulheres ou pessoas que se identificam com o gênero feminino em todas as suas pluralidades e que se dediquem a estudar mulheres artistas no Brasil, especialmente invisibilizadas por preconceitos raciais, linguísticos, religiosos, culturais, sexuais e sociais. Serão acolhidos trabalhos que enfoquem também iconografias femininas negras, indígenas, brancas, discursos visuais regionais e práticas artísticas femininas.
— Maria Cláudia Almeida Orlando Magnani é professora de História da Arte na Faculdade Interdisciplinar em Humanidades e do Programa de Pós Graduação em Ciências Humanas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri em Diamantina, Minas Gerais, Brasil.